domingo, 29 de maio de 2011

SER POETA

Todo o Poeta mente
Ao dizer o que não sente!
E se não sente o que diz
Não é Poeta! – É gente

Só é Poeta quem sente!...
Pois quem diz o que não sente
Não é Poeta! – É gente
Que não sabe quanto mente
Ao dizer o que não sente!

Não é Poeta quem quer!
Nem quem quer
Poeta será!
Toda a gente que quiser
Que sente aquilo que há
Poeta um dia será!...

Ser Poeta é outra gente!
É ser gente
Bem diferente
Daquela que para aí, há!
É sentir
O sentimento
E cantar
Em testamento
O que sente
E sentirá!


(In Revista «O Combatente», nº 299, Jan/Mar 1997,pag.2)

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Voos Poéticos




À guisa de despedida


Caros camaradas, amigos e gratos leitores,

Concluímos hoje, 31 de Dezembro de 2010, a publicação, em Blog, do “VOOS POÉTICOS”.
Este livro que muito honrou o seu autor, Coronel António Perestrello, aquando do seu lançamento, em Julho de 1997, coincidentemente com o 75º aniversário da heróica viagem aérea, de Lisboa ao Rio de Janeiro, continua vivo na memória de muitos leitores especialmente dos “aeronautas”!
Assim, foi um grato prazer dar continuidade a essa tarefa, lançando-o na «blogosfera» e permitindo que muitas mais pessoas possam conhecer a obra e descortinar, essas memórias, em verso, que marcaram uma geração de Portugueses!
Mas esse trabalho não ficaria completo se não lhe incluíssemos, o prólogo, que lhe foi gentilmente acrescentado pelo Senhor Brigadeiro João de Deus Quintela e que reproduzimos:

APRESENTAÇÃO

«Em boa hora se decidiu António Perestrello a reunir num volume os seus excelentes poemas e muito feliz foi a decisão de os lançar à apreciação pública, precisamente quando se estão comemorando os 75 anos da Travessia Aérea do Atlântico Sul, cometimento levado a efeito pelos oficiais da Marinha de Guerra Portuguesa, Artur de Sacadura Cabral e Carlos Viegas Gago Coutinho.
“VOOS POÉTICOS” exaltam a empolgante aventura do homem que se liberta da terra e vive as emoções místicas do imperar no espaço.
Mas “VOOS POÉTICOS” cantam, com igual sortilégio, a sedução das paisagens que envolvem a natureza, após o regresso à “pista de aterragem”.
Nas alturas, é a visão absorvente e sedutora dos limites longínquos; em terra, é o encantamento grave da contemplação das velas brancas dos moinhos e dos rios que dão vida à paisagem; e é o do estóicismo exigido na preparação das missões imperativas, quando os conflitos humanos carregam de nuvens negras a Paz abençoada pelos “cúmulos do bom tempo”... Em resumo, é viver as alegrias e as dores da Pátria, no eterno drama das rotas entre a Paz e a Guerra.
Do torrão Ibérico da Europa às paragens longínquas da África, da Ásia e da America do Sul, “VOOS POÉTICO” evocam as asas portuguesas que levaram a outros povos a mensagem da fraternidade lusitana, que as tempestades sociais não impedirão de se perpetuar.


Lisboa, Julho de 1997

João D. Quintela»

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

HINO DA FORÇA AÉREA

FORÇA AÉREA
PORTUGAL!…
Juventude
audaz
valente...
Nobre povo
sem igual
Rumo firme
sempre em frente!

Quer de noite...
quer de dia...
Sulcando no céu profundo

Com rasgos de galhardia

Os rumos que tem o Mundo!

FORÇA AÉREA
FORÇA AÉREA...
Sobre a terra,
Sobre o mar.
Alma lusa
vida etérea
Subindo
supremo altar
Vigilante
e imortal!...
Alerta...
Homens do ar!
Alerta...
Alerta voar!
Garantindo
PORTUGAL!...


Letra: António Perestrello
Música: Agostinho Caineta
(Diário da República, I Série – Nº 214 de 17SET. 85 – Portaria nº 690/85, do MDN)


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

RECORDANDO

POETAS DA “EPOPEIA DO AR”

“Voar! Sentir o céu bem perto ao coração
Beber em hausto fundo a luz da imensidade
É ser Cristo na cruz alada e redentora
Da máquina volante que o sol doura
Que é sinfonia, cor, cintilação
Hossana triunfal à Humanidade.”

- Sarmento Beires –
cor. pil. av.


“Cruz de Cristo, que outrora encheste ignotas plagas
...
Hoje pulsas numa asa, em vez de arfar nos mastros,
...
E de vermelho, ó Cruz! aspando o azul profundo,
Tu mostras bem que não morreu
Esse génio que, já não cabendo no mundo
Como os Titãs, escala o céu!”

- Henrique Lopes Mendonça –
c. m. guerra


“Eia avante pela vitória
Asas da Cruz a sangrar
Levai-as connosco à Glória
Nossa Senhora do Ar”

- Edgar Cardoso –
cor. pil. av.


“As asas fremian sob o sopro da tarde
...
A alma adormecia ao canto do motor;
Roçava-nos do sol a palidez da cor.”

- Antoine Saint Exupéry -
maj. pil. av.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

OS "LUSÍADAS" E AS FORÇAS ARMADAS

À Marinha

Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas,
Que do gado de Próteu são cortadas.

(Do Canto I – XIX)



Ao Exército

Mas já o Príncipe Afonso aparelhava
O Lusitano exército ditoso,
Contra o Mouro que as terras habitava
De além do claro Tejo deleitoso;
Já no campo de Ourique se assentava
O arraial soberbo e belicoso,
Defronte do inimigo Sarraceno,
Posto que em força e gente tão pequeno.

(Do Canto III – XLII)



À Força Aérea

Vistes que, com grandíssima ousadia,
Foram já cometer o Céu Supremo;
Vistes aquela insana fantasia
De tentarem o mar com vela e remo;
Vistes, e ainda vemos cada dia,
Soberbas e insolências tais, que temo
Que do Mar e do Céu, em poucos anos
Venham deuses a ser, e nós, humanos.

(Do Canto VI – XXIX)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A CRUZ DE CRISTO EM DEMANDA DO CRUZEIRO DO SUL



As portas do céu
Abriram-se de par em par!
E a Cruz de Cristo
Voou!... Rumou p’lo ar
Como outrora
- a horas certas
Nas naus e caravelas
seguindo as estrelas
Do tempo das Descobertas!

Voou!... Voou!... sem par
Essa cruz alada de Cristo
como nunca fora visto
Através do longo mar
p’lo espesso azul
Rumo ao Cruzeiro do Sul!

Foi em manhã primaveril...
O ‘Lusitânia’
ficou na história
Sob cores do Arco-Íris
- Pátria auréola de glória
Levando, em voo - rumo ao Brasil –
Coutinho e Cabral
Abraços fraternos
de Portugal!

É a Nação que esvoaça
Buscando irmãos da mesma raça.
São dois Lusos corações
- novos descobridores
Intrépidos aviadores
Unindo a língua de Camões!

Setenta e cinco Primaveras
são passadas
Desse glorioso feito Atlântico.
Fronteiras do vento
ultrapassadas;
Foi o sextante
na conquista da navegação;
E dos Lusíadas – outro cântico:
Uma nova Epopeia – Aviação!

(Lisboa, 1997)

30 de Março de 1932 – Partida do ‘Lusitânia’ para a 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul.

domingo, 1 de agosto de 2010

Carta de um COMBATENTE!

Perdõem-me os leitores deste meu Blog, a falta de modéstia, mas não resisto a publicar a carta recebida do Capitão Caetano Careto, de Tomar, que muito me emocinou.
Faço-o não pelos elogios que tece relativamente ao meu poema «O combatente» publicado neste Blog, em 10 de Setembro de 2009, que de facto, humildemente me orgulham, mas fundamentalmente por transparecer o sentimento de um Combatente, eco de tantos outros, que de alguma forma se sentem amargurados e discriminados pela forma como o poder político os tem esquecido.
Igualmente como Combatente, compartilho consigo Capitão Careto, não apenas as suas angústias pela forma como somos «esquecidos» mas igualmente, a tanquilidade “consciente do dever cumprido”, tal como refere na sua tão sensibilizante missiva!
Agradeço as suas palavras e fico muito feliz por ter reconhecido que os meus poemas não são constituidos por palavras vãs e em rima, mas também e, fundamentalmente, traduzem um estado de alma, cuja mensagem o Capitão Careto tão subtilmente conseguiu apreender.
Muito obrigado e bem haja!
António Perestrello

Transcrição da carta, do Capitão Caetano J. B. Careto:

«Não tive a subida honra de o conhecer.
Mas, por imperativo de consciência, e após ter lido
o seu poema “Combatente”, teria que levar ao Seu
conhecimento tudo o que a leitura desse Poema
trouxe ao meu espírito de antigo Combatente. Cumpri 4
Comissões de serviço por imposição no Ultramar,
Todas elas a 100% de aumento de tempo de serviço.
Tenho 79 anos de idade, sou casado e com 2 filhos de
40 e tal cada. Tenho 2 netos de 20 anos. Tive o
orgulho de pertencer à 7ª Companhia de Caçadores
Especiais que desembarcou em Luanda a 16 de Março de
1961. Seguiram-se as outras três ao ritmo que V. Exª
tão bem conhece. Regressei, graças a Deus, vivo e
escorreito. Hoje sou um Combatente Amargurado!
Por tudo o que lhe contei, meu Coronel, poderá
avaliar quanto o seu poema me tocou. Senti esse Poema
como me fosse dirigido, mas ele serve perfeitamente
às centenas de milhares de Camaradas que pelas matas
de Angola, Guiné e Moçambique deixaram os melhores
anos das suas vidas ao Serviço da DITOSA PÁTRIA
nossa Amada.
Creio que, quando partir, irei tranquilo, consciente
do dever cumprido no qual se incluía, também, levar
ao conhecimento de V. Exª toda a minha emoção e
gratidão pelo seu belo, oportuno e adequado Poema.
Aceite, meu Coronel, as minhas desculpas pelo
incómodo por ter lido estas meras linhas e aceite
também os meus respeitosos cumprimentos.
Caetano João Bigares Careto, Cap. SGE/Refº.Tomar, 10 de Julho de 2010»