terça-feira, 17 de agosto de 2010

A CRUZ DE CRISTO EM DEMANDA DO CRUZEIRO DO SUL



As portas do céu
Abriram-se de par em par!
E a Cruz de Cristo
Voou!... Rumou p’lo ar
Como outrora
- a horas certas
Nas naus e caravelas
seguindo as estrelas
Do tempo das Descobertas!

Voou!... Voou!... sem par
Essa cruz alada de Cristo
como nunca fora visto
Através do longo mar
p’lo espesso azul
Rumo ao Cruzeiro do Sul!

Foi em manhã primaveril...
O ‘Lusitânia’
ficou na história
Sob cores do Arco-Íris
- Pátria auréola de glória
Levando, em voo - rumo ao Brasil –
Coutinho e Cabral
Abraços fraternos
de Portugal!

É a Nação que esvoaça
Buscando irmãos da mesma raça.
São dois Lusos corações
- novos descobridores
Intrépidos aviadores
Unindo a língua de Camões!

Setenta e cinco Primaveras
são passadas
Desse glorioso feito Atlântico.
Fronteiras do vento
ultrapassadas;
Foi o sextante
na conquista da navegação;
E dos Lusíadas – outro cântico:
Uma nova Epopeia – Aviação!

(Lisboa, 1997)

30 de Março de 1932 – Partida do ‘Lusitânia’ para a 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul.

domingo, 1 de agosto de 2010

Carta de um COMBATENTE!

Perdõem-me os leitores deste meu Blog, a falta de modéstia, mas não resisto a publicar a carta recebida do Capitão Caetano Careto, de Tomar, que muito me emocinou.
Faço-o não pelos elogios que tece relativamente ao meu poema «O combatente» publicado neste Blog, em 10 de Setembro de 2009, que de facto, humildemente me orgulham, mas fundamentalmente por transparecer o sentimento de um Combatente, eco de tantos outros, que de alguma forma se sentem amargurados e discriminados pela forma como o poder político os tem esquecido.
Igualmente como Combatente, compartilho consigo Capitão Careto, não apenas as suas angústias pela forma como somos «esquecidos» mas igualmente, a tanquilidade “consciente do dever cumprido”, tal como refere na sua tão sensibilizante missiva!
Agradeço as suas palavras e fico muito feliz por ter reconhecido que os meus poemas não são constituidos por palavras vãs e em rima, mas também e, fundamentalmente, traduzem um estado de alma, cuja mensagem o Capitão Careto tão subtilmente conseguiu apreender.
Muito obrigado e bem haja!
António Perestrello

Transcrição da carta, do Capitão Caetano J. B. Careto:

«Não tive a subida honra de o conhecer.
Mas, por imperativo de consciência, e após ter lido
o seu poema “Combatente”, teria que levar ao Seu
conhecimento tudo o que a leitura desse Poema
trouxe ao meu espírito de antigo Combatente. Cumpri 4
Comissões de serviço por imposição no Ultramar,
Todas elas a 100% de aumento de tempo de serviço.
Tenho 79 anos de idade, sou casado e com 2 filhos de
40 e tal cada. Tenho 2 netos de 20 anos. Tive o
orgulho de pertencer à 7ª Companhia de Caçadores
Especiais que desembarcou em Luanda a 16 de Março de
1961. Seguiram-se as outras três ao ritmo que V. Exª
tão bem conhece. Regressei, graças a Deus, vivo e
escorreito. Hoje sou um Combatente Amargurado!
Por tudo o que lhe contei, meu Coronel, poderá
avaliar quanto o seu poema me tocou. Senti esse Poema
como me fosse dirigido, mas ele serve perfeitamente
às centenas de milhares de Camaradas que pelas matas
de Angola, Guiné e Moçambique deixaram os melhores
anos das suas vidas ao Serviço da DITOSA PÁTRIA
nossa Amada.
Creio que, quando partir, irei tranquilo, consciente
do dever cumprido no qual se incluía, também, levar
ao conhecimento de V. Exª toda a minha emoção e
gratidão pelo seu belo, oportuno e adequado Poema.
Aceite, meu Coronel, as minhas desculpas pelo
incómodo por ter lido estas meras linhas e aceite
também os meus respeitosos cumprimentos.
Caetano João Bigares Careto, Cap. SGE/Refº.Tomar, 10 de Julho de 2010»